sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Capítulo 5

— Não sei, Tarja. — disse Lorena. — Esse beijo me deixou tão... tão...

— Ah, por favor, Lorena. Você não era exatamente boca-virgem. Aliás, quem foi que já transou com todos os caras da agenda do celular?

— Eu, você, Madonna, Paris Hilton... — Lorena enumerou, e riu. — Agora eu sei por que as famosas têm tantos celulares. Mil contatos na agenda nunca é o suficiente.

As duas estavam no apartamento de Tarja. Tinham pedido comida chinesa. Lorena sempre ia pra lá quando estava cansada demais pra representar a boa moça pra imprensa.

Duas horas antes, na coletiva do filme, Gravel tinha anunciado publicamente que ele e Lorena Gervase iam se casar.

Ela foi pega de surpresa, e não estava exatamente animada com essa idéia, mas havia toda uma legião de fãs a quem impressionar.

— Quer dizer que você não gosta de Gravel? — perguntou Tarja.

Lorena fez um muxoxo.

— Eu gosto do corpo dele, oras. Tudo o que devia estar no cérebro está distribuído na musculatura debaixo. Uma vez ele me perguntou se Antilhas é a mesma coisa que Tic-Tac.

~

Mick tinha levado o melhor amigo no restaurante mais chique de Londres. Afinal, Leonardo Carmichael merecia. Ele logo seria o novo sex simbol do Reino Unido.

Leo estava distraído, mexendo seu Cosmopolitan intocado.

— Alôôô, Mick MacDavish chamando Leonardo Carmichael na missão em Júpiter! — Mick estalou os dedos diante do rosto de Leo.

— Ah, oi, Mick. Você tá aí há muito tempo? — Leo perguntou.

— Acorda, panaca, fui eu quem te trouxe aqui há quarenta minutos, e ainda não consegui estabelecer diálogo. — disse o outro. Mick tinha vinte e sete anos e era arquiteto. Ele não era um galã maravilhoso, como Leo, mas seus olhos, cabelos e cílios negros faziam um contraste agradável com a pele branca e o sorriso divertido.

— Desculpa, cara. — disse ele, tomando o drinque.

— A cena de vocês foi transmitida em rede nacional. — disse Mick. — E que cena, hein! Onde é que você aprendeu a atuar daquele modo?

— Não foi atuação. — disse Leo. — Pra mim foi de verdade.

— Nãããão. — Mick deu um sorriso divertido e jogou a caixinha de palitos na cara de Leo, num gesto amigável (o que atraiu olhares chocados de quase todos no restaurante). — Vai me dizer que o novo galãzinho tá pegando a ruivinha gostosa?

— Mick... — Leonardo disse, como quem está perdendo a paciência com uma criança. — Não é bem assim.

— Você tá com cara de quem quer contar alguma coisa. — disse Mick.

E como Leo queria...

— Ok. — ele cedeu. — Você é meu melhor amigo, e não quero isso no Times e na Vogue amanhã. É... um segredo.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Capítulo 4

Ela conseguia esconder seu pânico, ele conseguia esconder sua chateação e adoração, afinal, eram britânicos. Mas tudo o que ele conseguia pensar era no modo como ela tinha ficado ainda mais deslumbrante do que era naquela época.
E tudo o que ela conseguia pensar era "porque esse desgraçado tinha que voltar do inferno justo agora que eu estou no topo?"
Albert, feliz com o seu lindo casal de protagonistas, estava relendo o roteiro, e então parou numa cena.
— Vocês dois parecem tão entrosados. — disse ele, radiante. — Vamos fazer essa cena de beijo e mostrar ao meu elenco quem são Lorena Gervase e Leonardo Carmichael!
Ela suspirou e fechou os olhos, pensando que devia deixar de se mostrar tão certinha – com aquelas roupas horríveis e todo o mais – e passar a fumar em público. Fodam-se eles. Vão me amar de qualquer modo, era o que a atriz pensava, enquanto se levantava de sua cadeira e ia até a frente da enorme mesa onde todo o elenco do filme estava.
Leonardo levantou-se prontamente e foi até ela.
Eles estavam se olhando nos olhos, quando o diretor fez um sinal e alguém da equipe técnica colocou uma música chamada Another Heart Calls.
Os acordes suaves da música entraram pelos ouvidos de Leo, provocando um efeito estonteante. Era como estar de volta. Era como tê-la de novo. Era como... ser mais que o personagem que ele tinha que ser.
Leo aproximou-se lentamente do rosto de Lorena, olhando embevecido pra ela. Ninguém mais podia dizer se ele estava atuando ou sentindo tudo aquilo de verdade.
Ele roçou o rosto no dela lentamente, e colocou uma das mãos no rosto dela, enquanto Lorena fechava os olhos e procurava os lábios dele.
Eles começaram a se beijar, primeiro lentamente, depois apaixonadamente, seguindo os acordes da música.
Albert assistia à cena totalmente encantado.
— Eles são tão verossímeis...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Capítulo 3

Lorena estava fumando um cigarro atrás do outro. Era o dia da última reunião do elenco antes de começar as filmagens, e ela tinha acordado muito mais cedo do que devia. Seria um dia duro: iriam passar o dia inteiro falando sobre cada cena do filme e à noite teriam uma coletiva de imprensa.

Depois de decidir que nada poderia deixá-la abalada – nem mesmo ele –, Lorena estava pronta pra brilhar, e chegou rápido ao estúdio.

Leonardo tinha acabado de voltar da Austrália quando fez, por pura curiosidade, um teste pra estrelar um filme. Tinha sido um fotógrafo mundialmente famoso há vários anos, mas, como a maioria das pessoas do meio, logo foi substituído por um mais jovem e mais bonito.

Ele chegou mais cedo à reunião, pra causar uma boa impressão. Britânicos são pontuais, por isso chegar cedo é um bom jeito de ser admirado por eles.

A única pessoa naquele local era uma ruiva.

Ele a olhou fixamente, com aquela sensação intrigante de "eu sei que te conheço de algum lugar".

Ela ergueu os olhos da revista que estava folheando, e o olhou.

Então ele soube que era ela. Lorena Gervase, a garota de seu passado. E a mulher de seu futuro.

Ele não conseguia tirar os olhos dela.

Ela o reconheceu imediatamente e voltou a passar as páginas da revista, sem nem ver o que estava escrito nelas.

Albert Ravebell era o diretor do filme. Na casa dos quarenta, era um homem de olhar severo e sorriso simpático, e parecia mais um professor que qualquer outra coisa. E tinha acabado de chegar, trazendo com ele vários atores secundários do filme.

— Ah, que beleza! — ele exclamou, pegando Lorena pela mão. — Vai ser um prazer ter você em Surrender and Survival, Lorena Gervase.

— Vai ser um prazer atuar em Surrender and Survival e trabalhar com você. — disse ela, com um sorriso.

— Deixa eu te apresentar... — disse Albert. — Esse rapaz adorável é Leo Carmichael. Ele era fotógrafo. E vai fazer seu par romântico.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Capítulo 2

Lorena acordou com uma dor de cabeça que sugeria ressaca, e percebeu que foi o barulho do telefone que a despertou.

Gravel ainda dormia, totalmente adorável.

— Alô? — ela lembrou-se de fazer voz de garotinha simpática. Afinal, era essa a imagem que a mídia tinha dela.

— Lorena, é Chuck Graham. — disse a voz do outro lado. Chuck era o agente dela. Sua voz monótona parecia desesperada. Provavelmente seu estoque de brioches tinha acabado.

— Ah, como vai, Chuck? — perguntou ela, amavelmente.

— Aconteceu uma coisa terrível. George Luttrell sofreu um acidente... — disse ele.

— Ah, meu Deus, que horror! Ele está bem? — ela perguntou, ainda com seu fingimento impecável, mesmo que por dentro sua vontade fosse mandá-los à casa do caralho.

— Nada bem. — disse Chuck. — Ele vai sobreviver, mas... numa cadeira de rodas.

— Ah, não, coitadinho! — ela exclamou, sentindo-se nauseada com toda aquela baboseira conciliadora.

— É realmente uma pena. — disse ele. — Mas o terrível é que as gravações de Surrender and Survival iam começar semana que vem. O que nós vamos fazer sem o ator principal do filme?

— Ah, não sei como eu poderia ajudar. — disse Lorena, docemente. Tudo fingimento, claro, mas o mundo todo acreditava naquelas mentiras.

— Espere, querida. Minha outra linha chamando. — disse Chuck Graham, colocando-a na chamada em espera. Enquanto isso, ela acendeu um cigarro e ficou olhando Gravel dormir.

Ela não estava apaixonada. Mas Gravel era lindo de morrer. Totalmente sem cérebro, mas o que é que importava? Eles não precisavam exatamente conversar.

— Uau, ótimas notícias! — exclamou Chuck. — O diretor entrou em contato com o cara que ficou em segundo lugar no teste do papel de George... e adivinha só? Já temos o substituto pra ele. E se chama Leo Carmichael.

Capítulo 1

Dez anos depois

Tarja Lingard ergueu a flüte de champanhe.

— Ao novo filme de Lorena Gervase! — disse ela.

E todos os convidados da pequena e estrondosa festa brindaram.

Tarja era a melhor amiga da super estrela do cinema inglês, Lorena Gervase. A jovem atriz tinha alcançado a fama depois de protagonizar dois filmes nos últimos cinco anos. Não tinha sido fácil, mas seu lindo rostinho atraía o interesse, e sua personalidade meiga e refinada o mantinha.

A festa no loft da atriz, com poucos convidados, estava animada. Seu namorado, o DJ Gravel, um dos mais famosos na noite de Londres, estava fazendo jus à sua reputação.

— Londres nunca viu uma festa com quinze pessoas ser tão animada! — exclamou Tarja.

— E amanhã as revistas vão dar cada detalhe dessa festa. — disse Lorena, com ar de tédio. — E eu não posso nem fumar a porra de um cigarro, ou vão dizer "Nossa, sabe aquela moça tão certinha? Pois é, ela FUMA." Esses repórteres devem achar que eu sou virgem! E ela riu, virando de uma vez a taça de champanhe.

— Um bando de imbecis. — concordou Tarja, alisando o corpete do minúsculo vestido preto. Embora fosse uma morena atraente, era como se a beleza de Lorena sempre se sobrepusesse à beleza de qualquer outra que estivesse no mesmo ambiente que ela.

George Luttrell, o ator deslumbrante que seria par romântico de Lorena no próximo e aguardado filme, se aproximou das duas.

— É uma honra trabalhar com você, querida. — disse ele, beijando a mão de Lorena com um floreio, depois se dirigiu a Tarja. — Olá, gracinha, porque nós não nos apresentamos?

Lorena ainda ficou circulando pela festa, falando com seus poucos amigos pessoais, seu agente e o diretor do filme. Depois foi até o banheiro fumar um cigarro.

"Eu queria poder fumar em público como alguém normal", pensou ela, aborrecida. Mas Gravel, seu incrível namorado, tinha entrado no banheiro para procurá-la.

— Acho que já tá na hora da nossa estrela dormir. — disse ele.

Ela sorriu pra si mesma, e disse silenciosamente "Ah, como eu adoro não ser uma pessoa normal!"

Prólogo

— Jeni, garotinha que eu não sei o nome! — exclamou o fotógrafo, fazendo gestos impacientes. Estava fotografando um anúncio de maquiagem com uma supermodelo e duas mocinhas coadjuvantes. — Fiquem atrás de Sabrina.

— Porque nós ficaríamos? — perguntou a garota ruiva, seus grandes olhos verdes cintilando.

— Você sabe com quem você está falando, queridinha? Leonardo Carmichael, um fotógrafo internacionalmente famoso.

Ele tinha apenas vinte e um anos, mas estava no auge. E, embora ficasse por trás das câmeras, e não na frente delas, já era incluído em listas malucas de revistas femininas, tipo "Um dos cinquenta galãs da atualidade".

— Eu sei perfeitamente quem você é. — disse ela. Ela era jovem demais – não mais que quinze anos – mas tinha uma beleza estonteante. Embora parecesse ser extremamente rude.

— Então acho melhor você voltar pro seu lugar, querida. — disse ele.

— Acho melhor você se colocar no seu lugar, querido. — disse ela, a voz cheia de sarcasmo. — E aprender a tratar uma estrela.

— Eu nem sei o seu nome, ruivinha. — disse ele, com uma risada.

— Lorena Gervase. — disse ela, com firmeza. — Guarde esse nome, querido. Você vai se lembrar dele.


Apresentação

Lorena Gervase é uma ruiva adorável, e uma atriz de prestígio apenas aos vinte e quatro anos. Leonardo Carmichael é um fotógrafo cuja carreira teve ascensão e queda meteóricas e, aos trinta e um anos, tenta seguir a carreira de ator pra não cair de vez no esquecimento. Mas qual a ligação entre os dois? Qual o motivo de todo esse rancor? E o que fazer quando alguém que você ama e odeia está tão fragilizado?